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quinta-feira, 6 de maio de 2010

A verdade por si mesma não tem nenhum valor

Há uma coisa mais dolorosa do que nunca poder ouvir a verdade-é nunca poder exprimi-la,mesmo com a melhor vontade do mundo.Porque o que quer que digamos,o outro não escuta nunca a verdade que lhe queremos transmitir.Aquilo que sai dos nossos lábios e o que se passa na alma do outro,são sempre duas coisas diferentes.No instante seguinte deixa de ser semelhante-isso depende de tantas coisas que nada tinham a ver com a tua verdade e a tua vontade de verdade-isso depende do que o outro queria ouvir,da situação em relação a ti,etc...
E a verdade por si mesma não tem nenhum valor,é como uma moeda num país onde não é corrente.

Arthur Schnitzler,in "Relações e Solidão"

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O ódio liga mais os indivíduos que a amizade

O ódio,a inveja e o desejo de vingança ligam muitas vezes mais dois indivíduos um ao outro do que o podem fazer o amor e a amizade.Pois está em causa a comunidade de interesses interiores ou exteriores e a alegria que se sente nessa comunidade onde é muitas vezes determinada a essência das relações positivas entre os indivíduos:o amor e a amizade- é sempre relativa e não é em nenhum caso um estado de alma permanente;mas as relações negativas,essas são,a maior parte das vezes,absolutas e constantes.O ódio,a inveja e o desejo de vingança têm,poder-se-ia dizer,o sono mais ligeiro do que o amor.O menor sopro os desperta,enquanto que o amor e a amizade continuam tranquilamente a dormir,mesmo sob o trovão e os relâmpagos.

Arthur Schnitzler,in "Relações e Solidão"

*A dona deste blog deseja-lhe um bom resto de dia.*(cheia de luz e magia!)

sábado, 10 de abril de 2010

Escrever é triste

Escrever é triste.Impede a conjugação de tantos outros verbos.Os dedos sobre o teclado,as letras se reunindo com maior ou menor velocidade,mas com igual indiferença pelo que vão dizendo,enquanto lá fora,a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza,inclusive a simples claridade da hora,vedada a você,que está de olho na maquininha.O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália,puré de palavras,reflexos no espelho (infiel) do dicionário.
O que você perde em viver,escrevinhando sobre a vida.Não apenas o sol,mas tudo que ele ilumina.Tudo que se faz sem você,porque com você não é possível contar.Você esperando que os outros vivam,para depois comentá-los com a maior cara-de-pau ("com isenção de largo espectro,"como diria a bula,se seus escritos fossem produtos medicinais).Seleccionando os retalhos de vida dos outros,para objeto de sua divagação descompromissada.Sereno.Superior.Divino.Sim,como se fosse Deus,rei proprietário do universo,que escolhe para seu jantar de notícias um terremoto,uma revolução,um adultério grego-às vezes nem isso,porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira.Sim,senhor,que importância a sua:sentado aí,camisa aberta,sandálias,ar condicionado,cafezinho,dando sua opinião sobre a angústia,a revolta,o ridículo,a maluquice dos homens.Esquecido de que é um deles.
Ah,você participa com palavras?Sua escrita-por hipótese-transforma a cara das coisas,há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos,adjetivos,verbos?Mas foram os outros,crédulos,sugestionáveis,que fizeram o acontecimento.Isso de escrever «O Capital» é uma coisa,derrubar as estruturas,na raça,é outra.
E nem sequer você escreveu «O Capital».Não é todos os dias que se mete uma ideia na cabeça do próximo por via gramatical.E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se.Vazio,antes e depois da operação.

Carlos Drummond de Andrade,in "O Poder Ultrajovem."
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*A dona deste blog deseja-lhe um bom resto de dia.*(cheia de luz e magia!)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O amor não passa de uma pobre coisa banal e incompleta

Perdoo facilmente as ofensas,mas por indiferença e desdém:nada que me vem dos outros me toca profundamente. O amor!Ah,sim,o amor!Linda coisa para versos!A minha dolorosa experiência ensinou-me que sou só,que por mais que a gente se debruce sobre o mistério duma alma nunca o desvenda,que as palavras nada exprimem do que se quer dizer e que um grande amor,de que a gente faz o sangue e os nervos e as próprias palpitações da nossa vida,não passa duma pobre coisa banal e incompleta,imperfeita e absurda,que nos deixa iguais,miseravelmente iguais ao que éramos dantes,ao que continuaremos a ser.Então...para quê?

Florbela Espanca,in "Correspondência (1930)"
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*A dona deste blog deseja-lhe um bom resto de dia.*(cheia de luz e magia!)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Não julgues

Não julgues.A vida é um mistério,cada um obedece a leis diferentes.
Conheces porventura a força das coisas que os conduziram,os sofrimentos e os desejos que cavaram o seu caminho?Supreendestes porventura a voz da sua consciência a revelar-lhes em voz baixa o segredo do seu destino?Não julgues.
Olha o lago puro e a água tranquila onde vêm quebrar-se as mil vagas que varrem o universo...é preciso que aconteça tudo aquilo que vês.
Todas as ondas do oceano são precisas para levar ao porto o navio da verdade.Acredita na eficácia da morte do que queres para participares do que deve ser.

Jeanne Vietinghoff (citado em "In memoriam",por Marguerite Yourcenar)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O riso é o melhor indicador da alma

Acho que,na maioria dos casos,quando uma pessoa se ri torna-se nojento olhar-nos para ela.Manifesta-se no riso das pessoas,na maioria das vezes,qualquer coisa de grosseiro que humilha a quem ri,embora essa pessoa quase nunca saiba que efeito o seu riso provoca.
Tal como não sabe (ninguém sabe,aliás) a cara que faz quando dorme.Há quem mantenha no sono uma cara inteligente,mas outros há que, embora inteligentes,fazem uma cara tão estúpida a dormir que se torna ridícula.
Não sei por que  tal acontece,apenas quero salientar que a pessoa que dorme,não sabe a cara que faz.De uma maneira geral,há muitíssimas pessoas que não sabem rir.(...)
Mesmo o riso incontestavelmente inteligente é,às vezes,abominável.O riso exige em primeiro lugar sinceridade,mas onde está a sinceridade das pessoas?O riso exige a ausência de maldade,mas as pessoas, na maioria dos casos,riem com maldade.Um riso sincero e sem maldade é uma pura alegria,mas,nos tempos que correm,onde está a alegria?E poderão as pessoas ser alegres?(...)
Portanto:se quiserdes compreender uma pessoa e conhecer-lhe a alma não presteis atenção à sua maneira de se calar,ou de falar,ou de chorar,ou de se emocionar com as ideias mais nobres,olhai antes para ela quando se ri.Ri-se bem-é boa pessoa.

Fiodor Doistoievski,in "O adolescente"

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sem assunto sério, portam-se como cães e gatos

Quando não há assunto,um assunto positivo,sério,os homens activos comportam-se entre si como cães e gatos,e começam a discutir por uma questão de princípios e de convicções.
Recriminam-se uns aos outros por não compartilharem das mesmas crenças,e o ofensivo declara ao parceiro que ele não vê um palmo diante do nariz;e um ou outro que se mostra indiferente para com tudo menos para consigo;e alguns que se ocupam das leis municipais e gostariam de pôr tudo sob a sua jurisdição.E assim sucessivamente.É insuportável.

Fiodor Dostoievski,in "Diário de um escritor"

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Porque escreves descuidadamente?

Quem escreve descuidadamente faz,antes de mais, a confissão de que não dá grande valor aos seus pensamentos.Porque o entusiasmo que inspira a persistente resistência necessária para descobrir a forma mais clara, mais eficaz e mais atraente de expressar os nossos pensamentos é gerada simplesmente pela convicção do seu peso e da sua verdade-tal como só utilizamos escrínios de prata ou de ouro para as coisas sagradas ou obras de arte de valor incalculável.
Poucos escrevem da mesma forma que um arquitecto constrói,traçando antecipadamente um plano e pensando-o até aos mais ínfimos pormenores.A maioria escreve como joga dominó:as frases ligam-se entre si como as peças de dominó,uma a uma,em parte deliberadamente,em parte por acaso.

Arthur Shopenhauer, in "Aforismos".
"O discurso é o rosto do espírito." Séneca

"A vida é uma simples sombra que passa (...);é uma história contada por um idiota,cheia de ruído e de furor e que nada significa." William Shakespeare
"O homem que não tem vida interior é escravo do que o cerca" Henri Amiel
"É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão" Cesare Pavese .