terça-feira, 3 de maio de 2022

"Manual de sobrevivência de um escritor"

Esta mensagem vai ser uma análise filosófica de um livro que calhou aleatoriamente.
O livro "Manual de sobrevivência de um escritor",de João Tordo é em forma de prosa narrativa (carta) dirigido sobretudo ao público jovem-adulto que narra o que é ser escritor.Ele fala da escrita com obsessividade levando ao tédio e massacrando a cabeça,logo a avaliação atribuída é razoável e o título já é um indicador disso!
O livro é útil para quando o escritor atravessa uma fase de baixa produtividade tornando-o responsável,o objectivo dele não é proporcionar conforto,pelo contrário,o autor desafia  a ir além evidenciando as suas fragilidades e comprovando a perca de tempo.
Por ser de cariz didáctico,serve de base de lançamento de discussões relacionadas com a escrita.
Ora desenvolvendo,João Tordo convence a pessoa a ser escritor através de conselhos pessimistas e aborrecidos achando ser fácil a qualquer um alcançar sucesso,talvez por ser de uma época pré-digital.Vai citando e enumerando outros escritores para se apoiar no que diz,relatando que escrever é subjectivo,dando a entender que não tem ideias próprias naquilo que defende e por isso reproduz excertos de diversos autores que ele leu para compensar a falta de vivência,tentando mostrar que os escritores geralmente não costumam ter boa vida...é um parasita intelectual deprimente e insensível.
Ao longo das páginas,o papel redutor do escritor é constantemente realçado como se não houvesse vida além da caneta!!!Ninguém é obrigado a concordar com o estereótipo do escritor carrasco:essa reputação prevalecida pertence ao passado onde a actividade era mecanizada mas actualmente não é regra possuir essas características.
Ao mencionar outras fontes,ele reforça os seus argumentos encobrindo o vazio porque não tem experiência em certos níveis,portanto não se pode considerar um livro exemplar.É daqueles livros que estão no patamar utópico para o leitor comum (anónimo) ou soa não ser adequado:jamais se recomenda aos leigos literários porque não é uma narrativa que vai informar o dilema de ser escritor (nem este nem outro livro semelhante) na maioria das vezes um livro é usado para calar a boca dos mais ingénuos.Neste caso,o autor oferece uma visão pessoal em contraste não deixa de ser um livro insignificante,pouco atractivo e emocionante...faz parte da carreira buscar histórias nem que sejam superficiais e a culpa são das editoras que os favorecem em detrimento dos que exercem por profissão.
Eis aqui uma passagem do livro,p.47-

"Ler dá trabalho.Ver um filme dá menos trabalho.(...)
O que eu quero dizer com isto é:se passas noventa por cento do
teu tempo livre a ver filmes e séries de televisão,a tua linguagem
será a linguagem dos filmes e das séries de televisão.Muito
dificilmente encontrarás a motivação ou os recursos necessários
para escrever um livro,e ainda menos para escrever um bom livro,e
menos ainda para ser escritor.(...)
São processos de comunicação tão diferentes — a literatura e o
audiovisual —, em que a mente se posiciona de maneira tão díspar,
que a única solução é aprender com a respectiva tradição de cada
um destes meios.Portanto,se queres escrever,não te limites a ver
séries ou filmes. Lê. Lê. E lê."

Escrever tem de ser por prazer e não por sofrimento,aliás,o livro destaca a dor a começar pela infância onde ele projecta a amargura do ofício e esta dica não é para ser seguida à letra...há um equilíbrio para tudo!!!Ele ensina a ser consistente,repetindo a frase "Portanto,tu queres ser escritor" numa espécie de lembrete para a pessoa ganhar um hábito.
Obviamente que um livro nem sempre é reflexo de cultura como ele enfatiza exaustivamente.Dizer isto a alguém é um erro crasso que se está a cometer,claro que tem o poder de influenciar as pessoas porém não é um escudo contra a ignorância:escrever consome energia e não é um fardo para agradar terceiros,João Tordo não é fiável a este respeito.
Não acrescenta nenhuma novidade no campo da literatura,pauta-se pelo preconceito bastante implícito nas entrelinhas do qual dificilmente se retira lições.O autor transmite uma impressão irrealista e insuficiente em conteúdo para ser classificado de guia.
Apesar da linguagem ser acessível e transportar para o universo menos revelado desta faceta,o livro é uma autêntica desilusão!Convém salientar que ser escritor neste país é uma aptidão ingrata.
No início do livro ele diz que não gosta de escrever à mão porque odeia ver a caligrafia:esta pista não deixa margem de dúvidas de que vai ser irritante de ler e não tem noção de tal afirmação,além disso ele dispersa-se de capítulo para capítulo afectando o fio condutor,também a importância é mínima.
A arte de escrever tem de ser mantida e treinada para ser frutífera se não é escusado ser escritor,é estar a exprimir à toa ao leitor:ao escrever activa-se a função cognitiva,o processo exige uma metodologia.
Do lado oposto,a sociedade ainda não aprendeu a priorizar a escrita...há um enorme abismo literário.
O livro não fornece respostas exactas;ao ler com essa intenção o leitor sai enganado e não vai encontrar nada de jeito...apenas um conjunto de histórias elucidativas para meter os curiosos entretidos desta temática sem sarcasmos à mistura.
"Manual de sobrevivência de um escritor" dita seriamente o fracasso do autor.
"O discurso é o rosto do espírito." Séneca

"A vida é uma simples sombra que passa (...);é uma história contada por um idiota,cheia de ruído e de furor e que nada significa." William Shakespeare
"O homem que não tem vida interior é escravo do que o cerca" Henri Amiel
"É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão" Cesare Pavese .