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terça-feira, 3 de maio de 2022

"Manual de sobrevivência de um escritor"

Esta mensagem vai ser uma análise filosófica de um livro que calhou aleatoriamente.
O livro "Manual de sobrevivência de um escritor",de João Tordo é em forma de prosa narrativa (carta) dirigido sobretudo ao público jovem-adulto que narra o que é ser escritor.Ele fala da escrita com obsessividade levando ao tédio e massacrando a cabeça,logo a avaliação atribuída é razoável e o título já é um indicador disso!
O livro é útil para quando o escritor atravessa uma fase de baixa produtividade tornando-o responsável,o objectivo dele não é proporcionar conforto,pelo contrário,o autor desafia  a ir além evidenciando as suas fragilidades e comprovando a perca de tempo.
Por ser de cariz didáctico,serve de base de lançamento de discussões relacionadas com a escrita.
Ora desenvolvendo,João Tordo convence a pessoa a ser escritor através de conselhos pessimistas e aborrecidos achando ser fácil a qualquer um alcançar sucesso,talvez por ser de uma época pré-digital.Vai citando e enumerando outros escritores para se apoiar no que diz,relatando que escrever é subjectivo,dando a entender que não tem ideias próprias naquilo que defende e por isso reproduz excertos de diversos autores que ele leu para compensar a falta de vivência,tentando mostrar que os escritores geralmente não costumam ter boa vida...é um parasita intelectual deprimente e insensível.
Ao longo das páginas,o papel redutor do escritor é constantemente realçado como se não houvesse vida além da caneta!!!Ninguém é obrigado a concordar com o estereótipo do escritor carrasco:essa reputação prevalecida pertence ao passado onde a actividade era mecanizada mas actualmente não é regra possuir essas características.
Ao mencionar outras fontes,ele reforça os seus argumentos encobrindo o vazio porque não tem experiência em certos níveis,portanto não se pode considerar um livro exemplar.É daqueles livros que estão no patamar utópico para o leitor comum (anónimo) ou soa não ser adequado:jamais se recomenda aos leigos literários porque não é uma narrativa que vai informar o dilema de ser escritor (nem este nem outro livro semelhante) na maioria das vezes um livro é usado para calar a boca dos mais ingénuos.Neste caso,o autor oferece uma visão pessoal em contraste não deixa de ser um livro insignificante,pouco atractivo e emocionante...faz parte da carreira buscar histórias nem que sejam superficiais e a culpa são das editoras que os favorecem em detrimento dos que exercem por profissão.
Eis aqui uma passagem do livro,p.47-

"Ler dá trabalho.Ver um filme dá menos trabalho.(...)
O que eu quero dizer com isto é:se passas noventa por cento do
teu tempo livre a ver filmes e séries de televisão,a tua linguagem
será a linguagem dos filmes e das séries de televisão.Muito
dificilmente encontrarás a motivação ou os recursos necessários
para escrever um livro,e ainda menos para escrever um bom livro,e
menos ainda para ser escritor.(...)
São processos de comunicação tão diferentes — a literatura e o
audiovisual —, em que a mente se posiciona de maneira tão díspar,
que a única solução é aprender com a respectiva tradição de cada
um destes meios.Portanto,se queres escrever,não te limites a ver
séries ou filmes. Lê. Lê. E lê."

Escrever tem de ser por prazer e não por sofrimento,aliás,o livro destaca a dor a começar pela infância onde ele projecta a amargura do ofício e esta dica não é para ser seguida à letra...há um equilíbrio para tudo!!!Ele ensina a ser consistente,repetindo a frase "Portanto,tu queres ser escritor" numa espécie de lembrete para a pessoa ganhar um hábito.
Obviamente que um livro nem sempre é reflexo de cultura como ele enfatiza exaustivamente.Dizer isto a alguém é um erro crasso que se está a cometer,claro que tem o poder de influenciar as pessoas porém não é um escudo contra a ignorância:escrever consome energia e não é um fardo para agradar terceiros,João Tordo não é fiável a este respeito.
Não acrescenta nenhuma novidade no campo da literatura,pauta-se pelo preconceito bastante implícito nas entrelinhas do qual dificilmente se retira lições.O autor transmite uma impressão irrealista e insuficiente em conteúdo para ser classificado de guia.
Apesar da linguagem ser acessível e transportar para o universo menos revelado desta faceta,o livro é uma autêntica desilusão!Convém salientar que ser escritor neste país é uma aptidão ingrata.
No início do livro ele diz que não gosta de escrever à mão porque odeia ver a caligrafia:esta pista não deixa margem de dúvidas de que vai ser irritante de ler e não tem noção de tal afirmação,além disso ele dispersa-se de capítulo para capítulo afectando o fio condutor,também a importância é mínima.
A arte de escrever tem de ser mantida e treinada para ser frutífera se não é escusado ser escritor,é estar a exprimir à toa ao leitor:ao escrever activa-se a função cognitiva,o processo exige uma metodologia.
Do lado oposto,a sociedade ainda não aprendeu a priorizar a escrita...há um enorme abismo literário.
O livro não fornece respostas exactas;ao ler com essa intenção o leitor sai enganado e não vai encontrar nada de jeito...apenas um conjunto de histórias elucidativas para meter os curiosos entretidos desta temática sem sarcasmos à mistura.
"Manual de sobrevivência de um escritor" dita seriamente o fracasso do autor.

quarta-feira, 22 de março de 2017

O despontar de uma nova era filosófica

Saudações!
O tópico desta crónica é sobre a descolonização dos grandes pensadores europeus.
Antes de mais,eles estão a ser ignorantes ao querer que as personalidades sejam substituídas por aquelas de outros países ao invés de pedirem para dar espaço a mais origens.
Desenvolvendo esta notícia bombástica e rara,o problema foi muito bem detectado pois suscita uma discussão positiva acerca da redefinição do conceito filosófico,bem como mexe em toda a literatura.
É certo que para enriquecer a cultura deve-se incluir autores de mais nacionalidades no currículo escolar:o mundo está a atravessar uma fase a urgir por mudanças a vários níveis e a ausência de diversidades neste âmbito é uma delas.
Com isto não significa estar contra a influência ocidental,pelo contrário,aqui é a "gota de água" do pensamento crítico,ou seja,baseia-se em ampliar horizontes e desconstruir aquilo que foi imposto como modelo de filósofos descartando africanos,asiáticos e latinos dos livros.
Eles são classificados de incapazes de produzir obras de qualidade,sinal óbvio do prevalecimento do preconceito quando não é verdade,existem autores (contemporâneos) valiosos e pensadores antigos que possivelmente ficaram esquecidos ou perdidos nos arquivos das estantes das bibliotecas...lá por não constar na aprendizagem não quer dizer que não interessa ou é uma péssima referência a seguir:deve-se acrescentar visões.
Os manuais de história também precisam de uma revisão séria por ocultarem a versão de pessoas não-europeias:as disciplinas estão relacionadas.
A mensagem tem de ser evidentemente veiculada com coerência sem cortar a parte de quem foi importante e contribuiu para o mundo.
Esta é uma altura de abrir as mentes ao invés de reproduzir algo bacoco e que não corresponde com a actualidade porque o tempo da superioridade europeia já acabou e é suposto estar a caminho da evolução intelectual.
A filosofia não pode ser introduzida através de uma perspectiva passada e sim globalista onde a essência real é exactamente despertar-consciências não é só focar no legado deixado,visto assim é muito redutor...desvaloriza o pensamento individual e democrático.Em plena época a requerer desafios e estímulos,convém promover o espírito do conhecimento e da descoberta com a finalidade do cidadão poder exercer no dia-a-dia,se não,não vai convencer o suficiente nem levar a resultados frutíferos.
Reformular o programa é estudar meticulosamente porque isso trouxe um impacto negativo na sociedade:primeiro,pensar é mais prático do que teórico;segundo,não tem cor e terceiro é hipócrita afirmar que a filosofia só se aprende nas universidades.
A matéria é o objecto principal mas não induz a estar de acordo por causa das décadas,aquilo foi conforme o contexto vivido e a percepção tem de ser renovada.
É hora de seleccionar autores de fora da Europa e reconhecer o erro de exaltar a colonização do pensamento,deve-se abordar e não ser passivo perante este detalhe.
Por outro lado,há algo que faz impressão:será que não existem autores femininos?Outra dúvida,o que é que as gerações daqui a trezentos anos vão achar a este respeito?Isto é profundamente mais reflexivo do que se imagina.
Não se trata de ser politicamente correcto:a questão assenta-se na humanidade.
Uma universidade ou escola não serve para ensinar ideais filosóficos retrógrados e sim adequar à curiosidade,fornecendo opções para eles se identificarem.Deve-se dar visibilidade a mais referências para os estudantes se guiarem e terem a oportunidade de formarem a sua própria opinião,basta a equipa de conteúdos debruçar-se numa pesquisa exaustiva e concluir que uma pessoa de qualquer canto do planeta tem lições a transmitir aos outros povos.
Ora o artigo dá inúmeros motivos para concordar:só de ser publicado no site,é o ponto de partida para a transformação.
Talvez agora os alunos estejam atentos e comecem a procurar no geral mais pensadores.
Em suma,o despontar de uma nova era filosófica vai nascer.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

As chagas do Pedro Freitas

O tópico desta crónica é uma observação acerca de um escritor contemporâneo.
Pedro Chagas Freitas é um escritor bastante reconhecido há mais de uma década que escreve romances de cordel,com um forte apelo à sensibilidade patética e melosa nos textos,dotado de uma imaginação fértil,incorporando todas as personagens e reproduzindo com precisão o drama,pois um romance baseia-se em projectar tudo aquilo que o autor não é na realidade e construir perspectivas fictícias ou a partir de experiências vividas.
Ora passando ao desenvolvimento,esta chaga lançou recentemente um jogo chamado "Fábrica da escrita" para miúdos e graúdos com o objectivo de aprender a gramática da língua portuguesa e a pontuação bem como "O supergénio" da Science4you,sabe-se lá para quê.
Não é através de um jogo didáctico ao estilo monopólio que os jovens vão aprender a escrever,pelo contrário,o jogador vai levar na brincadeira e não vai reter nada por ser básico,ou seja,é o equivalente a ter um jogo para ensinar as pessoas a contarem...sinceramente o que isso acrescenta?Ele ainda expôs no FB alguns testemunhos de pais e professores a dizer que o jogo melhorou as notas dos mais novos:mais uma excelente estratégia para influenciar o público a adquirir e nem sequer diz em que sítios se vende.
Em relação ao Chagas,na página ele publica excertos dos livros editados e entretém o alvo (a maioria acima dos 35) com histórias bacocas e rascas a remeter as revistas cor-de-rosa fúteis e desprezíveis de tanto sentimentalismo exagerado.
Pelo que é dito,o autor é coordenador de uma espécie de workshop de criação de obra para descobrir um novo escritor (ou poeta) por uma competição (ideia terrivelmente de mau gosto),possivelmente ele está a aproveitar a situação para depois editar mensagens e ser exaltado pelos otários dos seguidores que acreditam ser tal como ele se apresenta.
A escrita é subtil,portanto de fácil compreensão e transmite a impressão de ser um mulherengo encapotado,tornando-se irritante de ler;as citações partilhadas são parvas,chatas,há algumas sem lógica e outras pirosas retiradas dos próprios livros,roçando a um homem indefeso e chorão e por isso não pode ser considerado um autor exemplar neste aspecto só por ser masculino,é injusto e triste porque se fosse feminino não seria aceitável nem teria o mesmo sucesso e ia receber os piores rótulos e ser acusada de perpetuar estereótipo de género...nisso a sociedade é machista e não abre os olhos!!!Os romancistas masculinos são todos "farinha do mesmo saco",só muda o modelo.
Os homens já dominaram a literatura ao longo da história,agora devia ser a vez das mulheres,depois é escusado queixar que não existem romancistas femininas:apenas estão a ser desvalorizadas quando se devia incentivar a escreverem.
Neste caso,ele não usa linguagem obscena nem excesso de metáforas para cativar,logo já ganha muito nos critérios.Não há segredos a esconder por ter alcançado milhões de seguidores,uma vez que eles aparecem naturalmente pelo autor ter visibilidade na imprensa.Ele só se distingue pelo nome ser de referência nacional.
A praga do Chagas emprega asneiras de vez em quando para enfatizar e realçar os textos (geralmente em forma de cartas ou conselhos dirigidos a alguém) não havendo no entanto problema nenhum porque o Miguel Esteves Cardoso também emprega asneiras mas de um modo expressivo,desajeitado e principalmente hilariante e não de um modo sério e vitimista.
"O engraxanço e o culambismo português" é um dos textos mais marcantes que reflecte o pensamento deste autor e é o único que se salva e é original.
É óbvio que um romancista tem de ter conta,peso e medida:procurar um ponto de equilíbrio a fim de evitar que o leitor se aborreça.
Os discursos do Chagas revelam tédio,é uma praga autêntica...difícil perceber se é ele que tem falta de noção ou se são os seguidores que o alimenta...a descrição na página profissional é informal e talvez nem seja um autor credível como ele passa a imagem.
Em suma,o Pedro Chagas Freitas é uma praga literária antiga.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Amizades entre o sexo oposto

Saudações atormentadoras das sombras!
Tal como o título indica,a crónica é sobre as amizades entre o sexo oposto,tudo o que nunca foi revelado.
Recentemente circulou nas plataformas de comunicação,uma corrente de pensamento que abriu um assunto muito importante de ser debatido devido à sua complexidade sentimental.
As amizades entre homens e mulheres são impossíveis.Após uma breve análise dos resultados de pesquisa que apontam exactamente o contrário,pode-se constatar que as tipas andam iludidas.
Para já,por mais receptivo e simpático que um homem seja,jamais se deve confiar,muito menos confundir com amigo por milhentos motivos:
1 - eles não têm maturidade para entender o sexo feminino nem se esforçam;
2 - sabem fingir tanto quanto elas que são amigos para depois arranjarem intrigas com o grupo;
3 - a amizade dura até ao dia em que a mulher gostar de alguém.Aí o amigo masculino vai rebentar de ciúmes ou vingar por se sentir traído;
4 - há fraquezas e sensibilidades biológicas próprias do ser feminino que devem ser evitadas contar a todo o custo a um elemento masculino,a qual geralmente chamam de birra;
5 - eles não suportam que uma mulher fale de um homem para outro homem (nota que isto é amizade,não uma relação amorosa e já são assim);
6 - uma das partes ou as duas pode vir a gostar da outra mesmo sendo comprometidas;
7 - eles são amigos verdadeiros entre eles,com elas são puramente interesseiros;
8 - têm raciocínio pouco desenvolvido.
Impressionante a idealização desta figura masculina protectora semelhante a um irmão...pior,são as que acreditam que a amizade deles não é tóxica,deixando-se levar por tamanha alarvidade...lastimável.
É verdade que as amizades femininas são repletas de conflitos,superficialidade,mesquinhez,egos e sobretudo manipulação enquanto eles são empáticos,transparentes e criam facilmente elos entre si.
A amizade entre o sexo oposto é um mito!!!Chega uma altura em que tudo termina pelas razões acima mencionadas;assim que têm oportunidades,eles também dão golpes baixos e a pessoa torna-se vulnerável.
Uma amizade mede-se pelo grau de confiança e não pelo facto de haver um homem.
As amizades com homens não são mar de rosas,isso foi inventado.Se a espécie anda fora do comportamento feminino,de que adianta travar amizades?Antes disso é suposto manter-se informado e actualmente,não há perdão ser ignorante!
O mesmo se passa com os homens que bajulam uma amizade feminina:há um grande risco do discurso ser artificial,pois eles costumam partir do princípio que tudo são ofensas pessoais,reconhecendo raramente o benefício.
São detalhes como estes que passam despercebidos e dos quais nunca ninguém quis saber.
A tão almejada influência masculina na amizade feminina,na realidade não existe.Quem deve desempenhar esse papel são os irmãos,eles são uma referência para-paternal.
Ironicamente,o equilíbrio emocional é um requisito em falta numa amizade masculina...não dá para entender de onde vem esta imagem moldada no imaginário feminino...espelhar nesse ideal de amizade,significa seguir a sua lógica.
Ora esta corrente defensora da amizade entre ambos,é uma teoria barata!
A relação entre homem e mulher é meramente para fins afectivos,jamais tem hipótese de ficar somente pela amizade duradoura normal por questões sociais de género,evoluindo para o próximo nível e mesmo que funcione,um dia mais tarde vai trazer problemas.
Conclui-se este pensamento confirmando a citação de Oscar Wilde:"não há amizade possível entre homens e as mulheres.Há paixão,inimizade,adoração,amor mas não amizade".

segunda-feira, 11 de março de 2013

O meu mundo

"O meu mundo não é como o dos outros,quero demais,exijo demais,há em mim uma sede de infinito,uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo,pois estou longe de ser uma pessimista;sou antes uma exaltada,com uma alma intensa,violenta,atormentada,uma alma que se não se sente bem onde está que tem saudades...sei lá de quê!"

Florbela Espanca

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A sociedade destroça o indivíduo

"Trata-se dum conjunto, dum todo, a sociedade, e, podre, uma vez que é preciso contar com ela ao mesmo tempo que se não deve contar. Quer dizer, é como um conjunto estável, composto por elementos instáveis. Ora é impossível viver no interior, sem sofrer essa instabilidade, esse monte de mentiras. Surge então o medo de utilizar o mínimo pormenor que participe dessa instabilidade. É a revolta. Você duvida do valor das palavras, dos gestos, do que representam as palavras, das ideias, das simples associações de ideias, dos sonhos e até da realidade, das sensações mais claras, mais agudas. Você duvida mesmo da sua dúvida, da organização que toma, da forma que adopta. Não lhe fica nada, nada. Já não é nada, é um camaleão, um eco, uma sombra. Isso é obra da sociedade, compreende?"



J.-M. G. Le Clézio, in 'A Febre'

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O sono como condição de saúde

"Eu presto homenagem à saúde como a primeira musa, e ao sono como condição de saúde. O sono beneficia-nos principalmente pela saúde que propicia; e também ocasionalmente pelos sonhos, em cuja confusa trama uma lição divina por vezes se infiltra. A vida dá-se em breves ciclos ou períodos; depressa nos cansamos, mas rapidamente nos relançamos. Um homem encontra-se exaurido pelo trabalho, faminto, prostrado; ele mal é capaz de erguer a mão para salvar a sua vida; já nem pensa. Ele afunda-se no sono profundo e desperta com renovada juventude, cheio de esperança, coragem, pródigo em recursos e pronto para ousadas aventuras. «O sono é como a morte, e depois dele o mundo parece recomeçar de novo. Pensamentos claros surgem firmes e luminosos, como estátuas sob o sol. Refrescada por fontes supra-sensíveis, a alma escala a mais clara visão" [William Allingham].

Ralph Waldo Emerson, in "Inspiration"

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O que sempre soube das mulheres

Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de vontade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até a mais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça,mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos – elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco.


Rui Zink, in "Jornal Metro"

terça-feira, 8 de março de 2011

A falsa emancipação da mulher

Actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço: outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma - um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Isso em nada difere da escravatura. A escravatura mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria. Assim, para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrem e considerem semelhante coisa como um pecado ou vergonha. Entretanto, eles suprimem a forma exterior da escravatura, depois imaginam, persuadem-se de que a escravatura está abolida mas não vêem, não querem ver que ela continua a existir porque as pessoas procedem sempre de maneira idêntica e consideram bom e equitativo aproveitar o trabalho alheio. E desde que isso é julgado bom, torna-se inveitável que apareçam homens mais fortes ou mais astutos dispostos a passar à acção. A escravatura da mulher reside unicamente no facto de os homens desejarem e julgarem bom utilizá-la como instrumento de prazer. Hoje em dia, emancipam-na ou concedem-lhe todos os direitos iguais aos do homem, mas continua-se a considerá-la como um instrumento de prazer, a educá-la nesse sentido desde a infância e por meio da opinião pública. Por isso ela continua uma escrava, humilhada, pervertida, e o homem mantém-se um corruptor possuidor de escravos.



Leon Tolstoi, in 'Sonata a Kreutzer'

domingo, 27 de fevereiro de 2011

As pessoas que só amam uma vez na vida

As pessoas que só amam uma vez na vida, são realmente pessoas superficiais. Aquilo a que chamam lealdade e fidelidade não passa, para mim, de um hábito de entorpecimento ou de falta de imaginação.

Oscar Wilde

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ódios e rancores

Recusa ser testemunha em processos: serias necessariamente alvo do rancor de uma das partes. Nunca forneças informações acerca de um homem que não seja bem nascido - e menos ainda se é de baixa extracção -, e faz como se tudo ignorasses a seu respeito. Se, em conversa, resolveres lançar uma ofensa contra alguém, sobretudo não tomes um ar pesado, mas continua a falar como se nada fosse. Em presença de terceiros, não manifestes a ninguém favores especiais, pois considerar-se-ia que desprezas os outros e serias votado a um ódio constante.
Evita avançar na carreira de modo demasiado rápido ou vistoso. É necessário que, perante uma luz que se torna cada vez mais brilhante, os olhos se habituem a pouco e pouco; caso contrário, desviam-se. Nunca vás contra o que agrada à gente do povo, quer se trate de simples tradições ou mesmo de hábitos que te repugnam.
Se és forçado a admitir que cometeste uma acção odiosa, não atices o ódio que desperta dando a impressão que não a lastimas ou, pior ainda, troçando das tuas vítimas, ou orgulhando-te do que fizeste: serias odiado duas vezes mais. O melhor é ausentares-te, deixares agir o tempo e não te manifestares.
Assume como regra absoluta e fundamental nunca falar inconsideradamente seja de quem for - nem bem nem mal -, e nunca revelar as acções de alguém, por boas e más que sejam. Efectivamente, é sempre possível que um amigo daquele a quem tu criticas esteja presente e se apresse a repetir o que dizes, mas com exagero, arranjando-te mais um inimigo. Em contrapartida, se fizeres elogios de uma pessoa na presença de outra, que a odeia, é a inimizade desta que irás criar.
É bem verdade que importa saber tudo, tudo ouvir, ter espiões em toda a parte, mas é bom que te informes com prudência, pois as pessoas depressa te ganharão ódio, se se sentirem vigiadas. Espia-as, pois, sem te fazeres notado.
Evita manifestar aquilo a que se pode chamar excesso de altivez. Quando, por exemplo, afirmas que não contas com os préstimos de ninguém ou que tens tropas que cheguem, haverá quem veja nisso apenas desprezo.
Nunca te arrogues de praticar uma política melhor do que a dos teus antecessores, nem de anunciar que as tuas leis são ao mesmo tempo mais rigorosas e mais equitativas, pois atraiarias a animosidade dos seus amigos. Ainda que sejam perfeitamente justificados, nada reveles dos teus projectos políticos, ou pelo menos não fales senão dos que estás certo de que serão bem recebidos por todos.

Jules Mazarin, in 'Breviário dos Políticos'

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Títulos e diplomas

Parece que a humanidade só se esforça enquanto tem a esperar diplomas idiotas, que pode exibir em público para obter proveitos, mas, quando já tem na mão tais diplomas idiotas em número suficiente, deixa-se levar. Ela vive em grande parte só para obter diplomas e títulos, não por qualquer outra razão, e, depois de ter obtido o número de diplomas e títulos que, na sua opinião, é suficiente, deixa-se cair na cama macia desses diplomas e títulos. Ela não parece ter qualquer outro objectivo para a vida. Não tem, segundo parece, qualquer interesse numa vida própria, independente, numa existência própria, independente, mas apenas nesses diplomas e títulos, sob os quais a humanidade há já séculos ameaça sufocar.
As pessoas não procuram independência e autonomia, não procuram a sua própria evolução natural, mas apenas esses diplomas e títulos e estariam, a todo o momento, prontas a morrer por esses diplomas e títulos, se lhos entregassem e dessem sem qualquer condição, esta é que é a verdade desmascaradora e deprimente. Tão pouco estimam elas a vida em si que só vêem os diplomas e títulos e nada mais. Elas penduram nas paredes das suas casas os diplomas e títulos, nas casas dos mestres talhantes e dos filósofos, dos chefes cozinheiros e dos advogados e juízes estão pendurados os diplomas e títulos e eles fitam esses seus diplomas e títulos, durante toda a vida, com os olhos ávidos que adquiriram ao olhar com essa ávida fixidez permanente esses diplomas e títulos. As pessoas não dizem, no fundo, sobre si próprias, eu sou a pessoa tal e tal, mas sim eu sou o título tal e tal, eu sou o diploma tal e tal. E as suas relações não são com a pessoa tal e tal, mas sim com o diploma tal e tal e com o título tal e tal. Assim, podemos dizer perfeitamente que, na humanidade, não são as pessoas que convivem umas com as outras, mas apenas os diplomas e títulos, as pessoas são, na humanidade, dito de uma forma grosseira, indiferentes, importantes são apenas os títulos e diplomas. Não são as pessoas que, há séculos, são vistas, mas apenas títulos e diplomas. Elas não encontram no café o senhor Huber, mas sim o doutor Huber, não vão jantar com o senhor Maier, mas sim com o engenheiro do mesmo nome. Parece que só assim atingiram o seu objectivo, quando já não são a pessoa, mas sim o engenheiro, quando já não são, como julgam, apenas a senhora Muller, mas sim a senhora juíza. E, nos seus escritórios, também não recebem a senhora, mas sim o excelente diploma. É certo que esta mania dos diplomas e dos títulos está espalhada por toda a Europa, mas foi, sem dúvida, na Alemanha e sobretudo na Áustria que ela atingiu um grau de monstruosidade e grotesco que se tornou aterrador.

Thomas Bernhard, in 'Extinção'

domingo, 26 de dezembro de 2010

Os convencidos da vida

"Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força.
Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
(...) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, ele julgar que lhe será mais útil.
Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajectória, o convencido da vida farta-se de cometer «gaffes». Não importa: o caminho é em frente e para cima. A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um «parvenu», a pior das «gaffes» é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro.
Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas. Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a «refaire surface». Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida - da sua, claro - para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi."

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"

O engano da bondade

"Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, acutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra.
Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame. Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos.
Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estuta estupidez.
Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.
E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra."

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer"

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nota para não escrever

Se o conhecimento é uma forma de escrita, mesmo sem palavras, uma respiração calada, a narrativa que o silêncio faz de si mesmo, então não se deve escrever, nem mesmo admitindo que fazê-lo seria o reconhecimento do conhecimento. Pode escrever-se acerca do silêncio, porque é um modo de alcançá-lo, embora impertinente. Pode também escrever-se por asfixia, porque essa não é maneira de morrer. Pode escrever-se ainda por ilusão criminal: às vezes imagina-se que uma palavra conseguirá atingir mortalmente o mundo. A alegria de um assassinato enorme é legítima, se embebeda o espírito, libertando-o da melancolia da fraternidade universal. Mas se apesar de tudo se escrever, escreva-se sempre para estar só. A escrita afasta concretamente o mundo. Não é o melhor método, mas é um. Os outros requerem uma energia espiritual que suspeita do próprio uso da escrita, como a religiosidade suspeita da religião e o demonismo da demonologia. A escrita - inferior na ordem dos actos simbólicos - concilia-se mal com a metamorfose interior - finalidade e símbolo, ela mesma, da energia espiritual. O espírito tende a transformar o espírito, e transforma-o. O resultado é misterioso. O resultado da escrita, não.

Herberto Helder, in 'Photomaton & Vox'

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Não deixes que metam o nariz na tua vida

Quando falas ou simulas falar de ti próprio e amalgamas passado, presente, futuro, há sempre os que perguntam se o que contaste é verdade ou não. Nunca indagam se vai ser verdade. O que lhes interessa é saber, com a curiosidade dos intriguistas, se o que se passou (ou parece ter-se passado) se passou mesmo contigo. É um erro de gente vulgar. Parasitários ou não, qualquer invenção ou patranha, qualquer «mentir verdadeiro» é acepipe biográfico, é pretexto para te enfileirarem na nulidade biográfica que é a deles próprios e tecerem incansavelmente histórias a teu respeito.
Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa. Essa pequena gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar exercício diário de falar por falar.
(...) Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante. O tombo da vida vulgar já foi feito por escritores como Camilo. E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma.
Desunha-te a escrever (olha que já tens pouco tempo!), mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras. É outro exercício salutar.

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"

terça-feira, 25 de maio de 2010

Uma discussão nesta santa Terra portuguesa acaba sempre aos berros

Não há maneira. Por mais boa vontade que tenham todos, uma discussão nesta santa terra portuguesa acaba sempre aos berros e aos insultos. Ninguém é capaz de expor as suas razões sem a convicção de que diz a última palavra. E a desgraça é que a esta presunção do espírito se junta ainda a nossa velha tendência apostólica, que onde sente um náufrago tem de o salvar. O resultado é tornar-se impossível qualquer colaboração nas ideias, o alargamento da cultura e de gosto, e dar-se uma trágica concentração de tudo na mesquinhez do individual.


Miguel Torga, in "Diário (1940)"

Estado frenético de tagarelice

Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros. Desde os píncaros de Castro Laboreiro ao Ilhéu de Monchique fervem rumorejos, conversas, vozeios, brados que abafam e escamoteiam a paciência de alguns, os vagares de muitos e o bom senso de todos. O falatório é causa de inúmeros despautérios, frouxas produtividades e más-criações.
Fala-se, fala-se, fala-se, em todos os sotaques, em todos os tons e décibeis, em todos os azimutes. O país fala, fala, desunha-se a falar, e pouco do que diz tem o menor interesse. O país não tem nada a dizer, a ensinar, a comunicar. O país quer é aturdir-se. E a tagarelice é o meio de aturdimento mais à mão.
(...) Telefones móveis! Soturna apoquentação! Um país tagarela tem, de um momento para o outro, dez milhões de íncolas a querer saber onde é que os outros param, e a transmitir pensamentos à distância.
Afortunados ventos que batem todas as altitudes e pontos cardeais e levam as mais das palavras, às vezes frases inteiras, parágrafos, grosas deleas, para as afogar no mar, embeber nos lameiros de Espanha, gelar nos confins da Sibéria, perder nas imensidades do éter. É um favor de Deus único e verdadeiro. O país pereceria num sufoco, aflito de rouquidões, atafulhado de vocábulos, envenenado de sandices, se a Providência caridosa lhos não disseminasse por desatinadas paragens.

Mário de Carvalho, in "Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina"

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A independência da solidão

O que me importa unicamente é o que tenho de fazer, não o que pensam os outros. Esta regra, igualmente árdua na vida imediata como na intelectual, pode servir para a distinção total entre a grandeza e a baixeza. E é tanto mais dura quanto sempre se encontrarão pessoas que acreditam saber melhor do que tu qual é o teu dever. É fácil viver no mundo de conformidade com a opinião das gentes; é fácil viver de acordo consigo próprio na solidão; mas o grande homem é aquele que, no meio da turba, mantém, com perfeita serenidade, a independência da solidão.

Ralph Waldo Emerson, in "Essays"
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(Afinal não sou louca :-) )

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Nossa Vida como um Conjunto de Metáforas

Pensemos, por exemplo, nos grandes escritores. Podemos orientar a nossa vida por eles, mas não podemos extrair das suas obras o elixir da vida. Eles deram uma forma tão rígida àquilo que os moveu que tudo isso está ali, mesmo nas entrelinhas, como metal laminado. Mas, que disseram eles na verdade? Ninguém sabe. Eles próprios nunca o souberam explicar cabalmente. São como um campo sobre o qual voam as abelhas; e ao mesmo tempo, eles são esse próprio voo. Os seus pensamentos e sentimentos assumem toda a escala da transição entre verdades ou erros que, se necessário, podem ser demonstrados, e seres mutáveis que se aproximam ou afastam de nós quando os queremos observar.
É impossível destacar o pensamento de um livro da página que o encerra. Acena-nos como o rosto de alguém que passa rapidamente por nós, numa fila com outros rostos, e por um instante surge carregado de sentido. Estou outra vez a exagerar um pouco. Mas agora queria perguntar-lhe: que coisa acontece na nossa vida que não seja aquilo que acabo de descrever? Não falo das impressões mais exactas, mensuráveis e definíveis; todos os outros conceitos em que baseamos a nossa vida não passam de metáforas que ficaram cristalizadas. Entre quantas ideias não oscila e paira um conceito tão simples como o da virilidade? E como um sopro que muda de forma a cada respiração, e nada é estável, nenhuma impressão, nenhuma ordem. Se, como eu disse, pomos de lado na literatura aquilo que não nos convém, tudo o que fazemos é reconstituir o estado original da vida.

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'
"O discurso é o rosto do espírito." Séneca

"A vida é uma simples sombra que passa (...);é uma história contada por um idiota,cheia de ruído e de furor e que nada significa." William Shakespeare
"O homem que não tem vida interior é escravo do que o cerca" Henri Amiel
"É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão" Cesare Pavese .