Saudações do canto das sombras!
O tema desta mensagem vai ser sobre diários,um hábito que foi caindo em desuso.
Um diário é um amigo impessoal e sobretudo uma prova concreta e autêntica daquilo que alguém vai vivendo.
Todas as memórias contadas serão importantes no futuro para se ter noção das experiências passadas e dos episódios marcantes ocorridos ao longo do percurso.
Dantes,relatar tudo no diário era sinal de solidão,pois havia um leve preconceito mas apesar do sentido negativo atribuído,há um lado muito bom:o de escrever sem limites,medo nem preocupação,despejando os pensamentos encravados na mente.
Como é algo pessoal,recomendava-se que o autor mantivesse em segredo e longe dos demais;ou seja,só ele podia saber o sítio onde se encontrava protegido e tinha acesso.
Quanto ao partilhar ou não partilhar um dia mais tarde com outrém,é uma decisão ao critério do autor,porque há quem exorcize momentos efémeros e há quem pretenda imortalizar através do registo autobiográfico.
Não significa propriamente que seja um motivo de orgulho:trata-se de exprimir por escrito conversas travadas com o eu interior onde existem conflitos,amarguras,dramas,devaneios,fantasias íntimas,felicidade,optimismo,verborreia,escárnio/blasfémias/maldição,sentimentos à flor da pele e uma grande dose da realidade.
Escrever no papel é diferente do blogue ou outro espaço virtual:no diário,as histórias permanecem gravadas,vívidas,confinadas,sem hipóteses de efectuar alterações,levando naturalmente o sujeito a "rebobinar a cassete".Além disso é prático em qualquer altura.
A relação com um diário é pura e extremamente confidencial.Todo o conteúdo exposto é a tradução literal da posição do escritor no mundo.Ninguém se entrega (emocionalmente) escrupulosamente às pessoas próximas,geralmente usa-se filtros mas quem confia à vontade tem de estar preparado para sofrer as consequências,pelo que a sua falta obviamente suscitará mesquinhez,inveja e desilusão,pois um dia a amizade acaba e as lembranças se transformarão em cinzas...servindo de alerta ao uso da intuição,pelo facto de ser raro haver um bom ouvinte ou então por desconhecerem certos assuntos.
Ser um "livro aberto" é um erro monumental!!!
Na escrita intimista,não há nada a evitar.O objecto sagrado,ao contrário dos humanos,nunca julga,útil a quem é predisposto a escrever.
Um blogue não é semelhante a um diário.Como já se verificou,o autor tem o poder de publicar os bons acontecimentos,distorcer,ocultar ou até apagar quando se fartar os relatos (ou o blogue).Eles não têm capacidade de discernir,por isso são básicos e exibicionistas.
Um diário é o refúgio ideal para qualquer situação,o único detalhe que não se refere em lado nenhum,é a quantidade...talvez sejam os quantos forem precisos até a alma curar.
Escrever é a forma mais extensível de comunicar.Oralmente perde-se informação,há mentiras pelo meio,argumentos inválidos,omissões e susceptibilidade a más interpretações.Não há o problema dos segredos serem espalhados,sendo uma ferramenta credível.
Concluindo esta crónica,a complexidade do diário não só é um caminho de auto-conhecimento como também um processo de libertação.